Acusado de matar transexual em São Borja é condenado a 24 anos de prisão



O ex-jogador de futebol Douglas Gluszszak Rodrigues, acusado de matar uma transexual em São Borja, na Fronteira Oeste, foi condenado a 24 anos de prisão em regime fechado na tarde desta terça-feira (21) por homicídio qualificado. Ele segue preso no presídio estadual da cidade.


A defesa deve entrar com recurso nesta quarta-feira (22), quando começa a contar o prazo para apelação. Ao G1, o advogado do réu, Walter Paulo Prieb, contestou o tamanho da pena.


"A pena é fora da realidade. É uma qualificadora só", afirma, referindo-se ao agravante de matar sem oferecer condições de defesa à vítima.


O juiz Marco Antônio Preis, que assina a sentença, afirma que outras circunstâncias foram consideradas, como a "premeditação", o comportamento de Douglas após o crime, por não prestar socorro, mesmo que anonimamente, e por deixar o corpo desfalecido em um local ermo à beira do rio, "demonstrando desprezo à vida humana".


Além disso, o magistrado destacou o fato de a vítima ser transexual e de o crime contra ela representar um atentado aos direitos humanos.


"O direito à igualdade sem discriminações abrange a identidade ou expressão de gênero, manifestação da personalidade da pessoa humana e, como tal, cabe ao Estado reconhecê-la, nunca constituí-la, sendo que a pessoa transgênero, independentemente de procedimentos cirúrgicos ou o registro público formal, há de ter este direito fundamental (...) reconhecido", diz, na decisão, o juiz Preis.


Segundo a denúncia do Ministério Público, o réu teria causado a morte de Thalia Costa Barboza, de 33 anos, após agredi-la com chutes e golpes de garrafa, em junho de 2018. Ela teve hemorragia cerebral em decorrência de um traumatismo crânio-encefálico e morreu.


Conforme a sentença de pronúncia, Douglas confirmou o fato em seu interrogatório, mas disse que não tinha a intenção de matar Thalia. Ele disse ainda que conheceu a vítima por meio de outro jogador de futebol, mas que nunca tiveram relação sexual.


O réu disse ainda que era menor que Thalia e que ela "tentou forçá-lo a manter relação sexual, ao que a empurrou e disse que não queria".


"Referiu que, ato contínuo, Thalia foi para cima do declarante, que desferiu um soco no rosto da vítima, que tornou a investida, oportunidade em que pegou uma garrafa vazia que estava no chão, com a qual desferiu um golpe na ofendida, que caiu. Sustentou que não sabia se Thalia morreu na hora em que recebeu o golpe, pois ficou assustado, pegou o carro e foi para casa. Negou ter chutado a vítima, referindo que machucou o pé treinando. Sustentou que estacionou o carro próximo ao apartamento, pegou os pertences de Thalia, descartou os documentos e ficou com o celular para apagar as fotos", diz a sentença de pronúncia.


O caso


Douglas atuava pela Associação Esportiva São Borja, time que disputava a Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho na época.


A polícia chegou até o atleta, natural de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, por meio de câmeras de segurança. Os dois aparecem chegando juntos a um apartamento. Os documentos da vítima, além do carro dela, foram encontrados próximo à residência onde o suspeito morava, junto com outros colegas de equipe.


A irmã da vítima, Mariane Costa Barboza, contou ao G1 na época que Thalia e Douglas eram um casal que estava junto há um mês.


"Nós éramos muito próximas, ela me contava tudo. Muita injustiça o que foi feito com ela, ela não merecia isso. Pedimos justiça, pois esse monstro destruiu nossa família", afirmou Mariane, à época do crime.


A irmã conta que conversou com Thalia um dia antes de corpo ter sido encontrado. Ela relatou que Douglas era carinhoso com a namorada, e nunca poderia imaginar que uma coisa dessas poderia acontecer.


"Tenho áudios enviados por ela para mim, em que ele falava que amava ela e que não queria ficar sem ela. Uma pessoa que diz que ama outra não faz essa monstruosidade", afirma.
Fonte: G1

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